Para Morar Devagar
Para morar devagar é um incentivo a morarmos e nos demorarmos na pintura, que se desdobra em diferentes suportes, escalas, materiais e processos para dar forma à ideia de casa, de lugar para sentir e morar e de arquitetura impossível, embora familiar. É a nossa capacidade de parar e ficar num determinado espaço que define a ideia de um lugar futuro, um lugar relacional e identitário que traz consigo essa eminência da presença e intervenção humana, da paisagem habitável e, por isso, da arquitetura. A amplitude, a liberdade, a ausência de restrições e a independência em relação ao ser humano são, nesse processo, substituídos por ocupação física, experiência, ação e memória, uma transformação que só acontece com a passagem do tempo. É este tempo que nos faz falta e do qual precisamos, com urgência. É o tempo que nos permitirá parar, ficar, sentir e ver.
Em última instância, é difícil perceber se a pintura pode exigir a quem a vê a mesma dedicação e as horas demoradas de quem a fez. Mas a sua adição ao mundo e a sua presença num espaço resultam num incontornável convite a uma demora, um abrandamento do olhar e um parar para ver. Talvez só com este tempo possamos transformar a pintura num lugar para morar devagar.
Ana Pais Oliveira
Maio de 2019